Foto: Raphael Alves/TJAM

“Ou escolhe um lado ou morre”: facções pressionam detentos e ex-presidiários no Amazonas.

Talvez o título da reportagem do Site Publica, Agência de Jornalismo Investigativo, edição do 05 deste mês, não se complete pela perspectiva do jornalismo investigativo pelas lacunas deixadas na abordagem de destelhes importantes que não foram questionados com autoridades da justiça e do sistema de segurança do estado.

As informações sobre atrocidades, enfaticamente trazidas à opinião pública, independentemente de já serem de seu domínio, têm a sua relevância, claro, na medida que suscitam não só a fragilidade do sistema penitenciário local mas, também, a omissão das autoridades diante da barbárie.

Sem esquecer a falta do aprofundamento estatístico do trabalho, a reportagem em nenhum momento questionou o estado a respeito do uso do nome das igrejas evangélicas – este, sim, o dado mais importante da matéria – como ferramenta de dominação e controle dos agentes do tráfico.

De acordo com o site de notícias, “uma pessoa que saiu da prisão só consegue se afastar do CV (Comando Vermelho) se comprovar ter se tornado frequentador assíduo de igrejas evangélicas. Do contrário, segundo o site, ou trabalha para as facções (com tráfico e confrontos armados) ou é morta”.

Ora, não é nenhuma novidade que facções envolvidas com o tráfico de drogas controlam a vida de quem passa pelo sistema penitenciário amazonense. Também, não é novidade que toda pessoa presa por tráfico tem um comandante fora dos presídios e que as ordens dele são transmitidas “pela boca do advogado”.

Agora afirmar que o ex-detento para gozar do direito à liberdade precisa optar ou pelo tráfico ou por uma igreja evangélica, convenhamos, é algo até então desconhecido.

A orientação é ruim? Não é. Ela é boa, louvável e digna de aplausos. Afinal, o caminho da paz, da solidariedade e do amor, por exemplo, quase sempre é o mesmo da igreja e não se compara com o do tráfico.

Por outro lado ressocializar o ex-detento, algo quase impossível nas casas de detenção, é admirável.

Em um trecho da reportagem, o compromisso do tráfico de ressocializar o ex-detento com a ajuda da igreja evangélica não deixa de ser surpreendente.

“Eles passam a acompanhar aquela pessoa por um bom tempo, passam a verificar se ela está indo para a igreja mesmo, se ela mudou de vida, passam a visitar a casa dela, a fazer perguntas para os vizinhos”, destaca o site.

A pergunta é: por que tão somente a igreja evangélica?

Confira a Reportagem

“Ou escolhe um lado ou morre”: facções pressionam detentos e ex-presidiários no Amazonas

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